sábado, 29 de novembro de 2008

Se ria...

Era um sorriso fino e louco que transpassava pela boca. Uma felicidade muda, rouca. Era uma leveza inquietante, que incomodava a respiração alheia.
Ficava ali parada, sorrindo, borboleteando. Mas não gargalhava. Era um sorriso quieto, permanente. Era uma alegria quase palpável.
Ninguém imaginava o que corria velozmente atrás dos grandes olhos que se riam, nem o que fomentava àquele riso incômodo e ingênuo.
Ninguém sabia o quanto era aliviante àquele riso. O quanto pacientemente ela o aguardou. Ninguém sabia por que ela sorria. Talvez nem ela mesma.
Apenas existia e amava. Sorria. Pois ela não era calma, nem paciente, nem descabida. Era uma menina que ria pelo canto da boca. Ela se ria.
Saudosista de si mesma, se ria. Ele era calmo, melodia. Ele era a paz, a nostalgia. Ela menina, se ria, se ria, se ria... Infinitamente pelo instante do até breve.
Se ria passarinha de si mesma. E seu riso se espalhava pela boca. Como bola de sorvete que escorre no vento, seu riso escorria pelo canto da boca e inundava as bordas da alma.
Até breve, dizia. Se ria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Às vezes

Às vezes me dá um medo. Um pânico. Um desespero. De perder o fio da navalha. O mínimo contato entre eu e mim mesma. Às vezes, quase sempre à noite, me dá um receio. Um nó na garganta. Um desespero. E ele vai crescendo, crescendo, crescendo... É um vazio, uma agonia, uma tristeza sem fim. Uma vontade de poder continuar vivendo da forma que eu gostaria. Mas eu não posso. Às vezes, me dá um medo, de um dia deixar tudo e sem aviso abandonar. Às vezes, quase sempre à noite, eu penso como seria bom se eu pudesse permanecer. Continuamente eu choro. Quase sempre é pelo mesmo motivo. Às vezes e somente às vezes eu sorrio para essa vida triste na qual eu me meti. Eu queria mesmo era nunca mais ter que ir, mas é preciso. E a tristeza eu levo comigo. Às vezes eu queria sorrir.

Eu escrevo mas não digo

Fui falar e a palavra soluçou
Fui dizer e o que era dito tropeçou
Fui contar, mas a expressão se dissipou
Quis dizer, mas engoli
Era sério, mas eu ri.

É sempre assim
Quando eu tento falar
Não consigo, as palavras se equilibram
quietas dentro de um soluço se infiltram.

Ficam lá dentro gritando
e eu por fora vou tentando
mas é sério e eu sorrio
é bonito e eu me irrito
eu tento mudar,
mas sempre me imito.

Aí eu escrevo,
e as palavras se encaixam.
Aí eu escrevo,
e a seriedade se distrai.
Aí eu escrevo,
e as palavras soluçantes
tremelicam pelos versos.
Aí eu escrevo
o que nem com o espelho
eu converso.

Aí eu escrevo o que eu penso,
o que eu afasto, o que eu engulo
o que eu disfarço.

Aí eu me escrevo.
Aí eu te escrevo.
Porque eu sou séria,
mas sorrio.
Porque eu lhe gosto,
mas não falo nem no seu ouvido.
Porque é assim que eu prefiro...
Porque é a isso que eu me refiro
- eu escrevo, mas não digo-
-drika.amaral

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um poema antigo

De procurar-me,cansei.
De encontrar-me, sorri.
De muitas mentiras, deixei...
elas não sabiam que não eram verdades.
De tantas idéias,morri...
os planos não sabiam que eram futuros,
pois foram criados no presente,
esperando a imortalidade.
Ficaram ausentes.

De tudo o que fui, já não sou.
E do tudo o que eu era, passou.
Dos planos que criei, a ausência.
E dos que nunca tive, a vivência.
Dos ventos que soprei, tempestades.
E das brisas que tomei, frescor.

Amanhã já é o passado, do futuro que penso agora.

domingo, 26 de outubro de 2008

Fatídico

Hoje eu queria fazer um poema
Da poesia triste que eu vi em você
era uma reta tão torta
uma linha tão seca
que até me deu vontade de dizer
sobre esse seu ar decadente
de andar entre a gente
que te faz parecer
tão sério, tão gênio,
tão cansado de tudo
como se já tivesse visto
o mundo duas vezes
e agora quisesse dormir
em pleno fla-flu de domingo.

Tão fatídico você
se auto
(des)entreter.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Um poema desprevenido

Meu amor, só queria lhe dizer
da enorme felicidade que me toma
somente ao lhe ver.

Pode parecer tão frívolo
falar dessa saudade rouca
que me consome sempre
pela ausência da sua boca.

Meu amor, não se espante,
se durante uma noite pálida
eu lhe fizer um poema assim
falando da saudade cálida
e do sentimento fundo
que mantenho em mim!

Meu amor, não penses
que mudei minhas formas
-secas e ácidas-
de digerir o mundo.
Embora encontre no seu abraço
um momento plácido
de amor mudo.

Meu amor, isso é apenas o que a falta
da sua boca linda e das suas palavras calmas
provocam nessa menina boba
-que ainda mantém essa mania híbrida
de manter a vida em rimas
como uma menina-mulher
transvestida em loba
e louca de saudade sem fim....-

Meu amor, canto baixinho
esses poemas bobinhos
pra que você ouvindo meus mimos
nunca se esqueça
do caminho para os nossos momentos
tão lindos e intimos
Os quais muitos, desinformados,
pensariam oníricos
mas não pra mim!

Meu amor, te adoro.

domingo, 19 de outubro de 2008

poetando

Não é que eu queira ficar,
apenas não sinto vontade de ir.
Não é que eu queira partir,
apenas me incomoda parar.
Não é que eu não pretenda explicar,
(ou que você não possa entender)
apenas não consigo demonstrar
a minha estranha vaidade de permanecer.

É uma maravilha,
é uma alegria que me invade
-noite e dia-
quando posso sair por aí
livre e solta
sem ninguém a me seguir.

Não é que você não possa vir,
é que talvez você também se perca
nessa minha imensidão sem cerca,
sem mapa, sem eira, nem beira.
E não é que seja ruim se perder,
mas têm pessoas que sempre tentam se achar
e eu não me importo em me deixar
em permanecer caminhando
e molhando meus pés no mar.

Não é que eu não goste de você,
gosto tanto
que ainda tento permanecer
entre dois mundos distintos
entre a areia embaixo dos meus pés
e as nuvens no céu a me chamar.

Se eu pudesse faria um samba
pra você entender esse meu coração
que não bate, balança.