quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Canseira

Cansei.
Repentinamente, bateu-me uma canseira.
Canseira das futilidades enormes da vida, das arrogâncias sem motivo, da falta de ética, de sinceridade, de verdades.
Canseira de ter de me reprimir, me conter, me manter, me "socializar".
Canseira de correr numa esteira, enquanto o céu azulado me chama.
Canseira de uma vida cheia de compromissos falsos, quando o que eu preciso é apenas de uma única alegria verdadeira.
Canseira de tantos e inúmeros momentos vazios, que não me fazem pensar, crescer, evoluir, entender-me.
Canseira, canseira, canseira...
Cansei-me.
Quero abraços sinceros, sorrisos verdadeiros, olhares intrigantes, mistérios não duvidosos.
Quero saber que o caminho em que sigo é verídico e totalmente admissível.
Quero poder olhar para trás e ver em uma nuvem de poeira toda essa canseira esvaída.
Quero poder deitar e dormir, tranquila, sem tentar sempre entender porque todas as ruas em que sigo não possuem saída. Sem ter que tentar decifrar tantos enigmas e meias frases.
Queria apenas poder encontrar essa tal sinceridade, que muitos falam, mas poucos usam.

Cansei-me de esperar por algo que, eu sei, não virá.
Mas também não peça pra que me contente com apenas essas migalhas.
Eu quero mais.
Cansei...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Uma certa paz

Então voou.
-uma alma solitária e sorridente
voou por cima da cidade e por cima de muita gente
deixou um rastro de perfume amadeirado
e sumiu no meio da tarde,
calada e suficientemente feliz-...

Então pousou em cima do meu nariz,
uma alma lilás
do jeito que eu sempre quis
-repleta de poesia e de paz-.
Pousou-me aqui.


Então há uma paz.
E, repentinamente, ela me invade.
Então há uma leveza.
E, repentinamente, ela me envolve.
Então há uma beleza.
E, repentinamente, ela me coroa.
Então há uma vida
e, repentinamente, ela me sacia.

Então houve a minha alma
que sempre fora tão afoita.
Então há essa minha nova alma
que se encontra tão calma,
tão bela, tão leve,
tão pacífica, tão completa.

Então não há mais buscas intermináveis,
não há noites de agonias,
não há medos abomináveis,
nem notas de melancolia
arrastadas em uma triste melodia
num bandolim desafinado.

Então há essa vida.
Essa vida calma,
embora não amarga.
Essa vida quieta,
embora não frustrada.
Essa vida branca,
embora não vermelha.
Essa vida sem demasias,
embora contenha suas próprias alegrias.
Essa vida alheia,
suficientemente sozinha.

Então há uma vida,
então há uma alma,
então há uma paz eloqüente
que me invade, me enlaça
me deixa até dormente,
embora esteja muito bem acordada.

Então cá estou
sem tantos rebuliços
Mas com vestido de festa
pra vida que vou,
mantendo comigo
uma alma pousada
lilás e engraçada
que se aconchegou na ponta do meu nariz
e que dentro de mim ficou
guardada e pulsante
alegre e amante
firme em mim.

Uma alma ganhada
sempre alada
uma paz engraçada
que me deixa
Simplesmente
estranhamente feliz.

Então cantei.

-drika.amaral