quinta-feira, 12 de junho de 2008

Perco-me de mim

Às vezes eu sinto que me perdi de mim mesma. Mas não me perdi por aí... Perdi-me dentro de mim. Parece complicado, mas não é. Sinto que a pequena relação que existia entre mim e eu mesma foi desfeita. E, desconfio seriamente, que se perder não seja assim tão ruim. Pelo contrário seja a melhor solução. Porque estar perdido também é uma forma de ter um caminho. Estar perdido nos mantém ocupados procurando. E, por procurar de forma incessante, acabamos encontrando o que nem havíamos descoberto dentro de nós mesmos. Com tamanha surpresa, perdemo-nos novamente.
É nessa fase que me encontro. Após tamanhas descobertas dentro de mim, estou assim, parada, observando esse novo ser, boquiaberta e perdida. Perdida porque o que eu era, definitivamente, já não se torna mais suficiente para preencher-me. Boquiaberta por descobrir-me muito mais forte e sábia. Perplexa com tamanha paciência que desabrochou dentro desse meu peito e dessa minha mente irrequieta. Desorientada com meus batimentos cardíacos que, incrivelmente, soam mais forte dentro do meu peito. Tão forte que me movem. A cada pulsar me impulsiono pra frente. E, quando antes eu desistiria, agora me sinto ainda mais motivada. Quando antes me sentiria envergonhada, agora me mostro ainda mais atirada. Quando antes era monocromática, agora me pinto tão colorida e surreal tal qual a um devaneio de Dali.
Perco de mim e dentro de mim mesma. Embora à primeira vista essa frase estarreça muitos ouvidos, eu me sinto muito mais confortável e segura, agora que estou perdida. Sinto-me possível por ser o que eu não era e por descobrir isso. Ainda que seja triste deixar de ser, é ainda mais excitante permitir-se ser de novo. Ser outra e não ser nada. Perder-se na sua incrível vastidão de humano. Perder-se e procurar-se. Procurar-se e descobrir-se. Descobrir-se e admirar-se. Admirar-se e perder-se, novamente. Num ciclo infinito que me mantém viva. Reinventando-me tal qual às minhas personagens.
É por perder-me que me encontro. E por encontrar-me é que volto a me perder. Por continuar recriando a mim mesma é que permaneço. Por permanecer é que ainda vivo.
Às vezes eu sinto que me perdi de mim mesma... E quando isso acontece uma alegria rejuvenescedora me invade. Irei começar mais um ciclo. Enquanto esses ciclos se mantiverem eu saberei que estou viva. Quando não tiver mais essa sensação de perda então começarei a me preocupar, pois a morte rondará minha cama e segurará meus sonhos em suas mãos de pedra. A morte é a única que não se permite estar perdida. A morte é como uma bússola muito bem orientada para o fim. Por isso mesmo perco-me. Perco-me infinitamente, ainda que eu saiba o que me esperará no final de todos os caminhos. Perco-me, ainda assim. Perco-me de mim.

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